sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Oeste dos EUA 2014 – Manzanar, uma vergonha americana

Veja também os demais posts da série “Oeste dos EUA- 2014”: Dia 0, “Começou torto!”, "Rota 66", "Navajo Nation", "Um lago ancestral" e "Pelas frestas do Arizona"

Ao preparar as minhas viagens, eu procuro fazer uma pesquisa bem detalhada dos lugares por onde vou passar. Ou seja, começo a “viajar” bem antes da viagem começar. Acho isso fantástico e envolvente.
Manzanar fica na Califórnia, a leste da Sierra Nevada, bem próximo do Vale da Morte
Já tinha ouvido falar dos campos de "concentração" que os japoneses-americanos ficaram confinados durante a guerra. Ao preparar minha viagem pelo Oeste Americano, em 2014, vi que ia passar ao lado de Manzanar (N 36.728309° W 118.146796°), um desses campos. Incluí imediatamente no roteiro e passei a ler mais sobre o assunto. É simplesmente estarrecedor!!!


Durante a viagem visitei o local, símbolo de uma das maiores vergonhas da democracia americana.
Torre de vigia do Centro de "Recolocação"
Para quem não conhece, Manzanar era um dos 10 campos de recolocação (eufemismo para não chamá-los de campos de concentração) onde foram aprisionados mais de 110000 imigrantes japoneses e seus descendentes, durante a Segunda Guerra Mundial. Dois terços deles eram cidadãos americanos de nascimento e a maioria dos demais, imigrantes que viviam nos EUA a mais de 3 décadas, só não tendo se nacionalizado americanos porque a legislação da época impedia.
Demarcação do Bloco de Alojamentos 22
Todos eles com direitos civis garantidos pela Constituição Americana, que afirma que ninguém pode estar preso sem acusação formada. Apesar deste direito estar garantido, mais de 110000 pessoas foram presas por mais de três anos pelo simples fato de terem origem japonesa e representarem um "perigo" em tempos de guerra. Nenhum deles foi sequer acusado de qualquer ato de traição, sabotagem ou espionagem, e muito menos julgados e condenados. Simplesmente encarcerados devido a sua origem japonesa.
Alojamento 1 do Bloco 14. Aí viviam 4 famílias, sem qualquer privacidade.
O louco de toda a história de Manzanar é a enoooorme discriminação que sustentou essa segregação. Brutal!

Para entrar nos campos de recolocação, eles tiveram que se desfazer de tudo em 48 horas. Só puderam levar o que puderam carregar. Na liberação, ganharam US$ 25 mais uma passagem para onde quisessem. Mas ir para onde, se haviam se desfeito de todos os seus bens
?! Isso sem considerar a enorme discriminação que iriam sofrer, já que eram “japoneses” e não americanos!
A discriminação contra os japoneses, mesmo antes da II Guerra Mundial, era muito grande
Em 1988 o governo americano deu, como indenização, US$ 20000 a cada sobrevivente desses campos, além de um pedido formal de desculpas pelo ocorrido. MUITO POUCO!


Em 2012 foi lançado o filme “The Manzanar Fishing Club” (clique aqui para ver o trailer), que concorreu ao Oscar de Melhor Documentário e relata a vida no campo de “recolocação” sob o ponto de vista dos que lá estiveram aprisionados. Mas vale também ver esse curto filme da PBS, “Manzanar, Never Again”! (clique aqui para ver o filme)
Calor infernal no verão, frio de matar no inverno e sempre com vento empoeirado. As condições de vida eram bastante precárias
O primeiro diretor do campo de Manzanar pediu demissão depois de meros três meses e disse ao seu substituto. "Aceite o cargo se conseguir dormir sabendo que milhares de inocentes estão encarcerados"!
Sepultura do pequeno Jerry Ogata. Note a rosa desidratada pelo calor e secura do deserto!
Manzanar é importante para os EUA, assim como para todo o mundo, por mostrar a fragilidade dos direitos civis, que apesar de serem garantidos na Constituição a todos os cidadãos americanos, de nada valeram em um tempo de guerra.


Memorial no cemitério do Manzanar War Relocation Center, California

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