quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Kamayurá – Mavutsinim




Enquanto estive entre os Kamayurás, li o livro “Xingu – Os Índios, Seus Mitos”, escrito pelos irmãos Villas Boas.

As estórias lá descritas são fantásticas e cheias de detalhes. Aqui vou contar a vocês a versão reduzida de dois mitos: o de Mavutsinim e o do Kuarup.

Mavutsinim é a figura mítica que representa o primeiro homem. Foi ele que criou os gêmeos sol e lua e todos os demais povos xinguanos, entre eles os kamayurás.

Nuvens refletidas no Rio Xingu

Conta a lenda que, “no começo, só havia Mavutsinim. Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filho, nenhum parente ele tinha. Era só!

Um dia ele fez uma concha virar mulher e se casou com ela. Quando o filho nasceu, Mavutsinim perguntou para a esposa:

- É homem ou mulher?

- É homem!

- Vou levar ele comigo! disse Mavutsinim.

Takará e sua oca

A mãe do menino chorou e voltou para a aldeia dela, a lagoa, onde virou concha outra vez.

Nós, dizem os índios, somos netos do filho de Mavutsinim!”

Meu nascote é um macaco aranha!!!

O que não fica bem explicado, e bem menos explicado que no bíblico Adão e Eva + Caim e Abel, foi como apareceu esse montão de gente que nos rodeia! Mas lenda é lenda, concordam?!

Noite de lua nova na Aldeia Morená

Outra lenda muito interessante é a do Kuarup, da qual tem origem a grande festividade onde se comemora, no Xingu, o rito de passagem da morte.

“Mavutsinim queria que os mortos voltassem à vida.

Nascer do sol no Rio Xingu

Cortou toros de madeira de kuarup (um tipo de árvore sagrada da região do Xingu), pintou e adornou com penachos, cocares, braçadeiras e fios de algodão. Fincou os paus na praça da aldeia e chamou o sapo cururu e uma cutia (dentro da lenda e no imaginário dos índios, muitos animais eram gente no passado) para cantar junto dos kuarups. Todos os homens da aldeia comeram beiju e peixe e começaram a se pintar e a gritar. Quando quiseram chorar os seus mortos, representados pelos kuarups, Mavutsinim não deixou porque os kuarups iriam se transformar em gente. Mandou todos para suas ocas, porque os homens não podiam ver os kuarups.

O vôo do "corta água"

No fim do terceiro dia, quando a transformação estava quase completa, Mavutsinim chamou a todos de suas ocas para que saíssem, gritassem, fizessem barulho, promovessem alegria e rissem junto dos kuarups. Apenas aqueles que tivessem uma relação sexual com as mulheres, na noite anterior, não poderiam ver os kuarups.

Apenas um dos homens da aldeia teve que ficar dentro da oca. Mas não agüentando de curiosidade acabou saindo depois de algum tempo. No mesmo instante os kuarups voltaram a ser pau novamente.

Curumins brincando

Aí, muito bravo, Mavutsinim sentenciou:

- Eu queria que os mortos voltassem a viver, toda vez que fizessem o kuarup. Agora os mortos não mais reviverão. Agora o kuarup vai ser só festa!

E isso aconteceu na Aldeia Morená, onde Mavutsinim vivia."

Lavando roupa

A Aldeia Morená era exatamente onde eu estava e é, para os kamayurás, o centro do universo!

EUA: Velho Oeste – Dah-he-tih-hi (out/2010)


Kayenta, no Arizona, é a pequena cidade que dá suporte a quem visita o Monument Valley Navajo Tribal Park. Até existe um hotel que fica dentro do parque, mas as diárias disponíveis estavam bem fora daquilo que estávamos gastando na viagem.

Por-de-sol no Mitchell Butte

Devidamente hospedados no Hollyday Inn de Kayenta, fomos matar a fome que já tinha se instalado e que começava a incomodar.

Bem, pelo tamanho da cidadezinha (pouco mais de 5000 habitantes), que estava no cruzamento do “nada” com “porra nenhuma”, nossas expectativas para o jantar não passavam de um mero Burger King.

Sentinel Mesa com o Stagecoach ao fundo

Se o que se come em um Burger King não varia, o que nos surpreendeu foi a decoração do local: diversos objetos capturados de soldados japoneses durante a II Guerra Mundial, além de muitas fotos de soldados navajos.

Burger King de Kayenta

Se você viu o filme Windtalkers (Códigos de Guerra, no Brasil) com Nicolas Cage e Adam Beach, se lembra da estória de um grupo de índios navajo que lutaram ao lado dos americanos na guerra. Além da estória em si, o filme fala muito da discriminação que os índios sofreram por parte dos próprios soldados americanos e do risco que sofriam por parecerem com japoneses. Se não viu o filme, vale a pena ver... ou rever. Para ver o trailer basta clicar no nome do filme em português.

Display de objetos capturados dos japoneses

É claro que você sabe que, numa guerra, um dos maiores segredos é a proteção das ordens e mensagens trocadas entre as tropas. Para isso se usa pesada criptografia e complexas máquinas. O conhecimento da chave permite a compreensão dessas ordens e mensagens pelo inimigo, tornando-se fundamental na antecipação das ações no campo de batalha. As máquinas de criptografia funcionavam bem para mensagens de texto, mas as transmissões verbais via rádio eram interceptadas pelos japoneses, que usavam soldados bilíngües, muitos deles educados nos EUA, que não somente compreendiam o que era falado como, muitas vezes, davam ordens falsas aos soldados americanos.

Transmissor de rádio usado na Segunda Grande Guerra

E por quê os navajos lutaram? Porque a língua deles não possui escrita e é quase que indecifrável para quem não a conhece. A idéia era muito simples: os soldados navajos foram usados para a transmissão e recepção entre si dessas ordens, levando muito menos tempo que os operadores de máquina de criptografia. Mais de 400 índios navajo foram recrutados pelos Fuzileiros Navais americanos e, para que em momento algum falassem palavras em inglês, um dicionário de 450 termos foi desenvolvido usando a língua navaja. Por exemplo: avião de caça era chamado de dah-he-tih-hi, que significava beija-flor em navajo.

West Mitten com a Sentinel Mesa ao fundo

Para cada operador navajo foi designado um "guarda-costas" que tinha a missão de impedir que eles caíssem em mãos dos japoneses. Conforme mostra o filme, no caso de risco de serem feitos prisioneiros, o "guarda-costas" deveria eliminar sumariamente o operador navajo para evitar que pudessem revelar o código usado.

Spearhead Mesa emoldurada pelo tronco de um juniper (zimbro?!)

Esses bravos soldados navajos foram usados nas batalhas de Guadalcanal, Tarawa, Peleliu e Iwo Jima. Depois da guerra, os japoneses reconheceram que os códigos usados pela Força Aérea e pelo Exército americanos foram decodificados, mas que jamais conseguiram entender o que era falado pelos operadores navajos.

West Mitten com a Sentinel Mesa ao fundo, no amanhecer

Mesmo assim o reconhecimento do governo americano pelo esforço navajo demorou. E demorou MUITO! Apenas em 1992 os operadores ainda vivos foram chamados ao Pentágono para uma cerimônia de comemoração e apenas em 2001 o Congresso condecorou os 29 operadores originais com a medalha de ouro.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Kamayurá – Karaiwa




 
Karaiwa significa "homem branco" na língua Kamayurá. E não há como impedir o avanço da cultura do branco sobre a cultura indígena. Pensar ou atuar no sentido contrário é simplesmente uma utopia.

No entanto, devem ser as próprias lideranças indígenas que devem determinar o grau de aculturamento que desejam.

Brincando com a água

Nós brancos, no meu ponto de vista, devemos buscar o registro das línguas, da mitologia e da cultura das diversas etnias indígenas, antes que elas se percam definitivamente.

Lá na Aldeia Morená, algumas vezes eu acordava com o cantar dos pássaros, bem antes do sol nascer.

Loite de lua cheia sobre o Rio Xingu

Pode até parecer romântico ser despertado com o cantar dos pássaros. A realidade era um pouco diferente. Nossa oca ficava no limite da aldeia e bem perto de uma mata. Mais que um romântico cantar de pássaros, o que ocorria na verdade era uma baita barulheira com um buzilhão de pássaros diferentes cantando todos ao mesmo tempo. Ou seja, não dava para ficar dormindo.

Levantava e ia passear pela aldeia. E qual era o próximo som que ouvia? Música sertaneja vindo do rádio da oca do cacique. Ou seja, a invasão da cultura branca começava bem antes do nascer do sol.

Makwará, o filho caçula do cacique Iawapi


A nudez é encarada naturalmente dentro da aldeia, mas dificilmente um índio ficará nu perto de um branco, a menos que haja uma cerimônia religiosa ou festiva. Por diversas vezes percebia, ao longe, uma índia com os seios descobertos. Pois bastava você se aproximar para ela puxar o vestido e se cobrir.

A nudez é algo natural entre os kamayurás, mas apenas se vê em cerimônias especiais


As crianças colocam roupa apenas quando vão para a escola da aldeia. Na Aldeia Morená, pelo menos, aprendem tudo não apenas na língua do branco, mas igualmente na língua kamayurá. Depois da aula, se ficam nuas ou vestidas é uma decisão delas.

A pequena Talita


O dia-a-dia da tribo se resume a trabalhar na roça, a pescar ou a atividades de manutenção na tribo. Seria tolice imaginar que ainda usassem os primitivos utensílios e ferramentas de seus antepassados.

O cacique Iawapi em sua roça


E quando o sol se põe na aldeia Morená, o gerador a diesel é ligado... para que todos possam assistir às novelas da Globo em suas televisões de LCD ou plasma. Muitos possuem aparelhos de DVD e posso garantir que o Iawapi, cacique da tribo, tem a coleção completa dos filmes do Rambo... versão pirata, é claro!

Bicicleta e antena parabólica, dois símbolos da cultura branca na aldeia kamayurá


Antigamente, esse era o momento onde toda a tribo se reunia ao redor de uma fogueira para ouvir as estórias e mitos indígenas contadas pelos mais velhos. Na medida em que esse momento é substituído pela televisão, a cultura aos poucos se esvai.

Tawaku, indio Kuikuro que mora na Aldeia Morená

E é no jovem que mais se percebe a influência da cultura do branco: óculos escuros colocados na nuca, headphone nos ouvidos tocando MP3, bermuda de surfista, cabelo moicano a la Neymar... fica difícil, MUITO DIFÍCIL fazer com que eles queiram perpetuar a cultura dos seus pais e avós.

Lá, como qualquer brasileiro de norte a sul, todos (inclusive as mulheres) amam o futebol e torcem por algum time. A maioria torce pelo Vasco, mas os quatro grandes do Rio e São Paulo estão homogeneamente representados por aqui.

Sula dominando a bola!


O dia acaba quando acaba a última novela da Globo. O gerador é desligado e o silêncio cai sobre a aldeia.

Boa noite!



Angola – Laços históricos que desconhecemos

Veja também o post "Angola - A água do Bengo".


É claro que foi triste ver os lindos traços coloniais de muitos edifícios numa cidade com uma infra-estrutura urbana completamente degradada. 

Palmeiras imperiais na orla do centro antigo de Luanda

Foi triste ver a pobreza de um povo sofrido e cansado de uma disputa política que arrastou o país a uma das mais longas e sanguinárias guerras civis de todo o mundo, alimentada de um lado pelos diamantes (os tão famigerados “diamantes de sangue”) e, do outro, pelo petróleo. Foi triste ver as marcas da guerra estampada nos prédios com buracos de metralhadora ponto 50 e carros crivados de bala. Foi triste ver uma multidão de mutilados, na grande maioria inocentes civis, se arrastando pelas ruas pedindo esmola. 

O tradicional comércio de rua

Mas foi maravilhoso descobrir o povo angolano. Um povo hospitaleiro, orgulhoso, alegre, amigo e que nunca perde a esperança. Um povo que ama o brasileiro e que demonstra profunda gratidão por todo o apoio recebido do nosso governo desde o primeiro momento de sua independência. Foi maravilhoso descobrir nossas raízes comuns e o quanto as histórias desses dois povos estão entrelaçadas. Mas senti vergonha ao perceber o quanto nós brasileiros, eu incluído, desconhecemos tudo isso.


Desconhecia que Angola, tal como o Brasil, também foi invadida e dominada pelos holandeses, que lá se estabeleceram onze anos depois de ocuparem Olinda e Recife. Na luta contra os holandeses, Portugal delegou a ofensiva angolana aos brasileiros. Foi uma frota com tropas brasileiras comandada pelo português Salvador Correia de Sá e Benevides que, partindo do Rio de Janeiro, retomou Angola em 1648. A partir daí, Angola teve governantes brasileiros até 1665.

Salvador Correia de Sá e Benevides, que libertou Angola da invasão holandesa

Quem ainda se lembra um pouco das aulas de História do Brasil, sabe que André Vidal de Negreiros foi um dos nossos heróis na luta contra os holandeses, na Batalha dos Guararapes. Só não sabe que ele, por seis anos, também foi governador de Angola, pouco depois de sua libertação dos holandeses. 


André Vidal de Negreiros, herói da Batalha dos Guararapese governador de Angola

O comércio Brasil-Angola no tempo da colônia era muito intenso. Daqui saíam cachaça e tabaco. De lá vinham escravos. As duas economias estavam tão entrelaçadas nos tempos coloniais, que Portugal incluiu um artigo no tratado de reconhecimento da nossa independência, em que obrigava o Brasil a abrir mão de quaisquer “pretensões ultramarinas”. Ou seja, abria mão de pretender ter Angola como sua colônia.

A forte presença dos comerciantes brasileiros, que dominavam o comércio de escravos, ainda está viva em Luanda na figura de uma bela igreja colonial. A Igreja de Nossa Senhora de Nazaré foi construída em 1664, por brasileiros, em agradecimento à Deus das bençãos recebidas em um naufrágio em que foram salvos por milagre. Um belo monumento que nos remete a um triste momento de nossa história.

Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, construída em 1664 por brasileiros que comerciavam escravos

Angola se tornou independente em 1975. O maior dos movimentos de libertação, o MPLA, de influência comunista, conquistou o poder, apesar da forte oposição da UNITA, de Jonas Savimbi, que tinha o apoio dos americanos e do governo da África do Sul. Em pleno apogeu da guerra fria, o governo brasileiro, contrariando sua forte tendência anti-comunista, foi o primeiro país a reconhecer Angola como estado independente e, por muito tempo, serviu de ponte política para os angolanos entre aqueles dois mundos que não se misturavam. Disso os angolanos nunca se esquecerão e são eternamente gratos.

Jonas Savimbi, líder da UNITA

São gratos igualmente ao governo brasileiro pelos oito aviões de combate Tucano cedidos no momento em que o acordo de paz, estabelecido entre as duas partes, foi desfeito pela UNITA depois da derrota de Savimbi nas eleições presidenciais. A guerra civil voltou com toda a intensidade, com combates dentro da própria capital Luanda... e os aviões Tucanos foram decisivos para que a vitória pendesse para o lado do governo angolano.

Semba! Não, não é samba e nem houve erro de grafia! Está certinho! Semba é a música e dança típicas de Angola. Apesar de ambas terem raízes comuns, o semba pouco lembra o nosso samba. A capoeira também tem sua versão angolana e a culinária angolana é forte, apimentada e marcante como a baiana, mas, sinceramente, ainda prefiro a nossa. 

Semba, o tradicional ritmo angolano


Tomadas, Torneiras e Descargas – Queimando o bilau!



Tomar banho pode dar a você não somente experiências siberianas, como também a de ser cozido em água fervente!

Você abre a torneira e a água quente é mestra em demorar em dar o ar de sua graça. Vem timidamente, como quem não quer nada e testa ao limite a sua paciência nessa “complexa” atividade denominada regular a temperatura de um banho.


Depois de meia hora para conseguir dosar a temperatura adequada para aquele banho reconfortador, você finalmente entra no chuveiro. Não sei se é por sacanagem ou se existe algum sensor de presença, mas é só você entrar debaixo do chuveiro e a água quente começa a minguar. Aí você abre a torneira quente um pouco mais. E a água quente novamente diminui. E mais água quente, e mais água quente, e... Você já abriu o máximo possível da água quente e seu banho tá ficando cada vez mais frio. Praguejando você desiste e começa a lavar os cabelos. Pode apostar, é só você colocar sabão no rosto e fechar os olhos que a água fervente volta com pressão total, cozinhando você por completo e, o que é o pior, queimando o bilau!!


Tentando se livrar daquele “inferno de Dante”, você enfrenta o ardor do sabão nos olhos e a água fervente da ducha para fechar a torneira da água quente... que solta do cano e fica na sua mão!

Sei que você está rindo dessa situação típica de comédia de pastelão, mas já passei por isso. Quando dei por mim estava pelado e todo ensaboado no meio do banheiro, que estava tomado por uma densa névoa de vapor!!

Quem está acostumado a simplesmente lidar com uma única torneira e com os nossos tradicionais e práticos chuveiros elétricos, quase empirulita quando enfrenta a multiplicidade das torneiras e mixers que você encontra nas pias e chuveiros desse mundão de Deus!


É tanto tipo diferente que se existisse um manual de operação reunindo todos eles em um único volume, ele pesaria pra lá de meio quilo! Tá legal que sou meio exagerado, mas que a criatividade grassa à solta nessa área, não tenha a menor dúvida.

Se por essas bandas tupiniquins o tradicional chuveiro reina absoluto, a ducha de mão é a preferida nos “Steites” e, principalmente, na Europa. Na minha forma de ver, um banho com ducha de mão é um banho porco! Pensando melhor, pra quem não gosta de tomar banho como o europeu, talvez seja este exatamente o objetivo maior!!



Já ouviu falar em “banho de toalha”? Por mais anti-natural e anti-higiênico que possa parecer para nós brasileiros, é muito comum encontrar nos banheiros dos hotéis europeus, toalhinhas especiais para esse tipo de banho.


E o famoso banho “checo”? Não, não é nenhuma invenção originária da linda República Checa. É checo, checo, checo e tá tudo “lavadinho”. Ircccc! Blearckkkk!! O pior é que encontrei, num hotel da rede Bonsai, na França, um box que tinha um banquinho acoplado na parede, justamente para facilitar o malfadado banho “checo”!!


A complexidade das torneiras e mixers das pias é semelhante à dos chuveiros, mas a facilidade de tirar as mãos debaixo e evitar queimaduras não chega a fazer delas inimigas potenciais.

Se em termos de pias e de torneiras a criatividade é igualmente imensa, nada supera algo que encontrei em um tradicional hotel em Lisboa. Algo digno de um prêmio ou de ir para o Livro dos Recordes.

Uma torneira que se preze pode ser dividida em duas partes: o registro (também chamada de cruzeta ou volante) para abrir e fechar a torneira e o seu bocal, por onde sai a água.

É óbvio que você já viu pia com dois registros (um de água quente e outro de água fria) e UM bocal por onde sai a água misturada.

Mas você já viu pia com duas torneiras completamente independentes, uma para água quente e outra para fria?! Coisa de louco, mas isso existe em Lisboa. (tá duvidando? Depois de muita pesquisa no Google, consegui achar uma foto de um desses modelos!)


Sinceramente não consigo imaginar como é que os nossos patrícios d’além mar conseguem uma água morna com duas torneiras independentes. Será que queimam a mão na água quente e refrescam na fria?!

Ai Jisuis, oh pá, que dúvida cruel!!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Kamayurá – Nasci de novo!!!



Para entender direitinho o real significado da minha expressão “NASCI DE NOVO!”, é muito importante que você leia o post anterior “Kamayurá – Aldeia Morená”. Aí você vai entender o quão longe eu estava de qualquer tipo de socorro!

Longe pacas de qualquer socorro!!!

Bem, mas vamos à minha estorinha.

Passei duas semanas na Aldeia Kamayurá Morená, colaborando com o Projeto Tracajá, de preservação de tartarugas de rio. Foram dias de muita, mas MUITA ralação! De manhã, percorríamos as praias do Kuluene à procura de ninhos eclodidos. Assim que um era encontrado, cavávamos ao redor do ninho protegido para retirar a tela de proteção, pegar os filhotes, identificar se havia algum ovo podre dentro do ninho, a existência de termômetro de controle, etc.

Era em média uns 24 ninhos por dia e retornávamos com 250 a 500 filhotes para a aldeia. De tarde a faina era no laboratório. Fui “pai” orgulhoso de centenas de tartaruguinhas!

Ao longo dessas duas semanas, apesar do esforço despendido, não senti ABSOLUTAMENTE NADA! Como bônus adicional, perdi três quilos.

Chego em Brasília no domingo 13/11 mais feliz que pinto no lixo! Mal cheguei e já fui marcando um churrasco com a família na terça, feriado de 15/11, para mostrar as fotos e contar tudo o que vi e vivi.

Ah, antes que eu me esqueça, tinha um importante compromisso na quarta com o meu cardiologista. Depois de dois anos sem aparecer por lá, ia finalmente tomar um belo e merecido esporro pelo sumiço!

Pois bem, não teve nem churrasco e muito menos a consulta com o cardiologista... antes disso eu simplesmente INFARTEI!!!

Na noite da segunda comecei a me sentir muito mal logo após o jantar. Um mal estar digestivo repentino e sem qualquer explicação. Passei a noite vomitando e com diarréia, com uma queimação incrível na entrada do estômago (pelo menos era isso que eu sentia).

Acordei com uma baita dor no peito e a queimação tinha aumentado. Pedi para a Mary para levar-me para o hospital. Até aí ainda achava que era uma piora dos problemas “digestivos” do dia anterior.

A inexperiente médica recém formada que me atendeu na emergência do Hospital Santa Luzia, apesar das reclamações de dores no peito e do eletrocardiograma (ECG) ter apresentado anomalias, entendeu que era um mero problema gástrico e receitou Plasil e Buscopan composto.

É óbvio que as dores no peito não passaram e foi somente depois de MUITA insistência da Mary que ela resolve fazer um segundo ECG... que mostrou as mesmas anomalias. Foi apenas aí que fui transferido para o Hospital do Coração, do outro lado da rua, onde estavam TODOS os cardiologistas disponíveis!

SIM, APESAR DE SER INACREDITÁVEL, O SANTA LUZIA NÃO TEM UM ÚNICO CARDIOLOGISTA! Por ser do mesmo dono, a cardiologia do Santa Luzia foi toda transferida para o Hospital do Coração!!! Uma medida adequada na teoria, mas que não funciona pela incompetência do corpo médico do Santa Lúcia em diagnosticar um problema cardiológico que aparece por lá!

No Hospital do Coração o tratamento foi outro! Em cerca de quarenta minutos eu já estava na mesa de cirurgia, desentupindo minha artéria e colocando um stent!

Tô bem!!! Foi só um baita susto!

Menos de uma semana depois do ocorrido, já estou de volta às minhas atividades “normais”.

Por ter sido socorrido prontamente, a lesão do infarto foi mínima e as seqüelas serão tão pequenas que pode-se até mesmo serem consideradas como “inexistentes”!

Edu na UTI do Hospital do Coração, em Brasília

Apesar do baita susto, só tenho a agradecer à competência, profissionalismo, dedicação, carinho e apoio recebido de TODA a equipe do Hospital do Coração, do médico ao mais humilde empregado. Foram todos nota MIL!!!

Meu coração ANTES do stent!
Meu coração DEPOIS do stent! A diferença é simplesmente INCRÍVEL!!!

E se tradição pede que se assine o gesso, porque não pedir a cada uma das maravilhosas enfermeiras (que carinhosamente eu chamava de “anjas”!) para que assinassem o esparadrapo que estava no meu pulso? A todos vocês o meu sincero OBRIGADO!

Minhas "anjas"!

Agora voltando ao título deste post: você já pensou se esse infarto tivesse acontecido apenas 48 horas antes, em plena Aldeia Morená, no meio do Parque Indígena do Xingu?! Certamente eu teria “esticado as canelinhas” e não estaria agora aqui escrevendo este post.

O ômi lá de cima mostrou que gosta MUITO de mim e me deu uma nova oportunidade. Tenho que fazer por merecê-la, concorda?!

LINDA mensagem de apoio recebida do pessoal do Projeto Tracajá! Brigadão a todos!!!


domingo, 20 de novembro de 2011

Kamayurá – Aldeia Morená

Veja também os posts “Kamayurá Arewawak!!” e "Kamayurá - Motap!!". 


A aldeia Kamayurá – Morená fica na confluência dos rios Kuluene, Ronuro e Batovi, formando o rio Xingu.

Chegar até aqui requer uma certa dose de aventura, principalmente nessa época do ano onde chove com regularidade. O mapa abaixo localiza você no mapa do Brasil e dá um pouco a dimensão das distâncias. Note uma grande mancha verde na parte superior esquerda do mapa. É o Parque Indígena do Xingu, de natureza intocada, bem distinta das demais regiões ocupadas pelo homem branco.

Brasília no canto inferior direito, Canarana (mais à esquerda) e a Aldeia Morená, no canto superior esquerdo

Para chegar até aqui, primeiro pega-se um ônibus de Brasília até Canarana, no estado de Mato Grosso. Deve-se ressaltar que é um ônibus leito de qualidade bem razoável e, se não fossem as 812 paradas, as 15 horas de viagem, a maioria durante a noite, passariam bem rápido.

O trecho seguinte é feito em avião monomotor. Como a pista de pouso da Aldeia Morená vira um lodaçal no período das chuvas, temos que pousar na aldeia Pavuru. Quem tem medo de voar de avião nem vai pensar em se arriscar a passar uma hora dentro desse avião lotado de gente (não tem um único vôo que saia com assento vazio) e de carga.

Lotação esgotada... de passageiros e de carga!!!

Risco não tem pois os aviões recebem excelente manutenção e o piloto não é doido em colocar o pescocinho dele no fio da guilhotina. Mas confesso que, ao olhar pra cima e ver uma baita nuvem negra e ao olhar para baixo e só ver mata e rio, faz a gente repensar certos conceitos e posições de vida!!!

Ah, se chover o avião não decola!!!

Os meandros do Kuluene abaixo de um céu prometendo chuva

Do Pavuru até Morená leva mais outra hora de viagem... em um barco desses de alumínio mais entupido que as antigas “jardineiras” que percorriam o interior de Minas. Aproveite e dê uma checadinha na foto abaixo e conte quantos estão com colete salva-vidas. Contou?! Pois é, isso aqui é um OUTRO Brasil!!!

Mais uma hora de barco rio acima

Morená é a confluência de três importantes rios e é, para os Kamayurá, o centro do mundo. Foi aqui que viveu Mavutsinim, figura mítica que representa o primeiro homem e criador de todos os demais seres humanos.

A Aldeia Morená é uma aldeia em formação e tem 27 anos de idade. Nasceu de uma dissidência entre os Kamayurás e se separou da aldeia principal, que fica nas margens da Lagoa Ipavu. Três famílias originaram o grupo fundador. A do pai do cacique Iawapi...

Cacique Iawapi

... a do Joe ...

Joe

... e a do pajé Kanari.

Pajé Kanari

Se essas são as mais importantes lideranças dentro da tribo, do lado de fora a Aldeia Morená é representada por outra importante e forte liderança, Kanawayuri Marcello Kamayurá, filho do Joe.

Marcello, importante liderança Kamayurá

Além das praças circulares (formação típica da etnia) onde se agregam as ocas dos núcleos familiares, a aldeia também possui uma escola, um posto de saúde,além do laboratório do Projeto Tracajá

Formação redonda de aldeia, típica da etnia Kamayurá

E é através do projeto Tracajá, que a Aldeia Morená projeta uma crescente influência e interesse em outras aldeias e etnias. O tracajá, pequena tartaruga de rio, comum em toda a Região Amazônica, está sendo protegida nas nove praias da imagem abaixo. Com isso espera-se que as gerações futuras de Kamayurás e de outras etnias possam voltar a comer esse importante elemento de sua tradicional alimentação.

As nove praias protegidas pelo Projeto Tracajá, com a Aldeia Morená no canto superior esquerdo